Enchente faz aumentar sintomas de ansiedade e depressão na população gaúcha, mostra estudo
Oito a cada dez participantes de pesquisa realizada pelo Hospital de Clínicas relataram algum nível de ansiedade; maioria sentiu sintomas pela primeira vez
Publicado em 29 de junho de 2024
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Oito em cada dez gaúchos apresentou algum nível de ansiedade em função da tragédia climática que atingiu o Rio Grande do Sul a partir dos últimos dias de abril de 2024. Mais da metade dessas pessoas (57,7%) nunca havia experimentado esse sentimento.

Os dados são de resultados preliminares da pesquisa “Impacto da catástrofe climática de 2024 na saúde mental de moradores do Rio Grande do Sul”, realizada pelo Serviço de Psiquiatria do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e com a Fundação Universitária Mário Martins. O estudo utilizou dados de um questionário online, que já foi respondido por mais de cinco mil moradores do Rio Grande do Sul.

Os dados compartilhados pela equipe da pesquisa com a reportagem do Correio do Povo se baseiam na análise preliminar de cerca de mil formulários.

Algum nível de sintomas depressivos foi relatado por 75,7% dos participantes do estudo. Para 58,8% dessas pessoas, essa foi uma sensação inédita.

A pesquisa tem por objetivo identificar a dimensão do problema para ajudar a sociedade a ter uma melhor resposta de várias formas e em vários níveis. Um deles é com materiais educativos sobre o tema, que já podem ser vistos nas redes sociais do estudo.

“A gente começou logo no início das enchentes para tentar ter uma noção do impacto que estava causando nas pessoas. E a ideia é fazer um seguimento das pessoas que aceitarem ao longo de um ano, para ver como é o curso desse impacto para aquela pessoas e isso nos dá uma noção do impacto disso na nossa comunidade, porque foi o Estado inteiro afetado”, explica a psiquiatra Alice Cacilhas, diretora da Fundação Mário Martins.

Alice afirma que os dados devem ajudar na definição de políticas públicas. “Para planejar políticas de saúde, precisamos ter dados. Lá no posto de saúde, precisamos oferecer formas, que não são só tratamentos, de ajudar as pessoas, ajudá-las a buscarem o tipo de auxílio que elas precisam.”

Com base nos dados analisados até o momento, os pesquisadores avaliam que o impacto emocional é grande, mesmo em quem nunca apresentou sintomas.

“Estes achados não são para alarmar a população, pelo contrário, visam reconhecer que essa é uma resposta comum à imensa maioria das pessoas atingidas ajuda a poder lidar com isso e desenvolver ações em todos os níveis: individual, familiar, comunitário e a desenvolver estratégias para reconstruir nossa sociedade”, afirmam.

Estudo britânico

O trabalho tem inspiração em um estudo semelhante, realizado pelo serviço público de saúde da Inglaterra, em 2020. O “Estudo Nacional Inglês sobre Inundações e Saúde” envolveu entidades como a Universidade de Bristol, Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres e a King’s College.

O estudo britânico cita que a incidência e o impacto dos eventos de inundação aumentam no mundo todo. A iniciativa partiu da fase de recuperação da resposta às inundações no inverno de 2013-2014.

Participaram moradores de bairros afetados pelas enchentes no sul da Inglaterra, entre 2013 e 2014, e em Cumbria, em dezembro de 2015. Os participantes foram categorizados de acordo com a exposição - como inundados, perturbados por inundações ou não afetados - e acompanhados anualmente por 3 anos.

Participe da pesquisa

A pesquisa é voltada para toda a população que reside no Rio Grande do Sul. Todos podem responder, tendo sido afetados diretamente ou não pelas inundações.

O formulário online permanecerá disponível durante um ano. Para participar, basta clicar neste link. Leva cerca de dez minutos. As perguntas, de resposta objetiva, abordam os impactos percebidos pelas pessoas a partir da enchente.

Para mais informações, acesse os perfis do estudo no Instagram ou no Facebook.

 

 

 

Foto: Reprodução/Web

Fonte: Correio do Povo
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