Um estudo publicado na revista científica Science revelou que as chamadas mega secas — períodos de estiagem que duram pelo menos dois anos — têm ocorrido com maior frequência, intensidade e impacto ao redor do planeta nos últimos 40 anos. A pesquisa analisou dados entre 1980 e 2018, identificando mais de 13 mil eventos do tipo no período. O Brasil apareceu duas vezes entre os dez casos mais graves.
Os pesquisadores apontam que essas secas não são eventos isolados, mas sim fenômenos que ocorrem de forma prolongada e abrangente, caracterizados pela drástica redução da precipitação e, em alguns casos, pelo aumento da demanda atmosférica por água.
Brasil entre os mais afetados
A pesquisa destacou dois episódios severos no Brasil. A primeira foi a mega seca na Amazônia Sul-Ocidental entre 2010 e 2018, classificada como a 7ª mais grave do mundo no período. Estados como Acre, Amazonas, Rondônia e Mato Grosso enfrentaram uma queda histórica no nível dos rios Madeira, Negro e Solimões, afetando comunidades ribeirinhas e tornando a floresta mais vulnerável a incêndios.
O segundo evento de grande impacto foi a crise hídrica no Leste do Brasil, entre 2014 e 2017, considerada a 9ª mais severa globalmente. A estiagem afetou Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo, levando o Sistema Cantareira ao “volume morto” em 2015, prejudicando o abastecimento de milhões de pessoas.
Causas e projeções
O estudo aponta três fatores principais para o agravamento das mega secas no mundo: o aumento das temperaturas globais, a redução das chuvas em algumas regiões e o crescimento da evapotranspiração — fenômeno que acelera a perda de água do solo e da vegetação.
No Brasil, biomas como Cerrado e Pampa foram os mais afetados pela perda de vegetação durante os períodos de seca extrema. Já a Amazônia, apesar de uma resistência inicial, sofreu danos severos quando a estiagem se prolongou por anos.
Os pesquisadores alertam que a tendência global é preocupante e exige medidas urgentes de adaptação para mitigar os impactos desses eventos climáticos extremos.